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DMHC News | Entre a causa animal e a ética pública: os limites da atuação parlamentar em Uberaba

 Por REDAÇÃO do Jornal DM News | Siga nas Redes Sociais

 

Denúncia de abandono de cadela e filhotes expõe dilemas legais e políticos na sobreposição entre mandato eletivo e gestão de ONG



 


O caso de uma cadela com 12 filhotes encontrada em condições precárias no bairro São Cristóvão, em Uberaba, mobilizou a vereadora e protetora de animais Denise Max e trouxe à tona um debate delicado: até que ponto um parlamentar pode se envolver diretamente com causas sociais quando também comanda uma ONG ligada ao mesmo tema? A situação expõe não apenas a urgência da proteção animal, mas também potenciais conflitos entre o dever constitucional do vereador e as limitações legais impostas à atividade político-partidária e associativa.



 


Em vídeo compartilhado nas redes sociais, foi possível ver a cadela e seus filhotes em meio a entulho e lixo acumulados em terreno particular. A vereadora recebeu a denúncia, acionou o secretário de Governo, Beethoven de Oliveira, e obteve a promessa de limpeza imediata do local. Paralelamente, por meio da ONG Supra — da qual é fundadora e principal gestora — lançou apelo público por lar temporário ou adoção responsável, comprometendo-se com a castração futura do animal.



 


A Constituição Federal atribui ao vereador o papel de legislar, fiscalizar o Executivo e representar a sociedade. A intervenção em prol da causa animal, quando direcionada ao poder público, insere-se nesse escopo. No entanto, quando a atuação parlamentar se mistura à de uma ONG particular, surgem potenciais vícios jurídicos.

 
A sobreposição entre mandato eletivo e gestão de entidade privada pode configurar conflito de interesses, uma vez que o agente público, valendo-se da máquina estatal, impulsiona diretamente a visibilidade e os resultados de sua própria organização. Esse tipo de conduta pode ser interpretado como uso indevido da função pública em benefício próprio ou de terceiros, violando princípios constitucionais como a impessoalidade e a moralidade administrativa (art. 37 da Constituição).



 


Sob a ótica psicológica, a atuação da vereadora reflete forte engajamento afetivo com a causa animal, o que pode ser visto como virtude em termos de empatia social. Contudo, a fusão entre identidade pessoal, militância e mandato pode gerar vieses de julgamento, dificultando a separação entre interesse coletivo e interesse institucional privado. Esse entrelaçamento, ainda que bem-intencionado, tende a produzir dependência emocional da figura política e a reforçar relações de poder personalizadas, em detrimento da construção de políticas públicas estruturais.



  


Casos como este demonstram a urgência de mecanismos institucionais que assegurem a proteção animal de forma impessoal e permanente, reduzindo a dependência de ações pontuais de agentes políticos ou de entidades privadas. O papel da ONG é complementar e legítimo, desde que não se confunda com a função fiscalizadora ou executiva do poder público.


A linha entre a atuação cidadã e o exercício da função pública precisa ser constantemente respeitada. Se a ONG atua como substituta do Estado, e não como parceira regulada, há risco de enfraquecimento das instituições. O verdadeiro avanço para Uberaba será transformar mobilizações individuais em políticas públicas estáveis, capazes de proteger os animais e, ao mesmo tempo, resguardar a ética pública.

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